Como Implementar uma Gestão Participativa

Por que tem se falado de Gestão Participativa?

Não é de hoje que a insatisfação com o ambiente empresarial tem aumentado. Recentemente, uma pesquisa da International Stress Management Association mostrou que 72% das pessoas estão insatisfeitas com o trabalho. E você não precisa nem ir muito longe, se conversar com colegas e familiares verá que tem muita gente que não está tão feliz assim com seu dia a dia no trabalho.

Na minha opinião os principais fatores de frustração são:

  • Falta de autonomia e poder de decisão – muitos funcionários apenas acatam ordens e são vistos apenas como engrenagens de uma máquina maior
  • Falta de reconhecimento – que está um pouco ligado ao primeiro item. Se o colaborador não toma nenhuma decisão, acaba não sendo envolvido em momentos importantes da empresa e faz apenas o trabalho operacional

Em alguns outros caso, você vai encontrar insatisfações com remuneração, excesso de tarefas e relacionamento com equipe de trabalho ou gestores diretos. Não sei se você percebe, mas todos esses fatores são consequências de uma gestão centralizadora, onde as decisões e opiniões de quem está “embaixo” não importa.

Acredito que cada vez mais temos que entender que uma gesão participativa é essencial para a retenção de talentos nas organizações e crescimento de organizações.

O que é Gestão Participativa

O conceito é bem simples e o próprio nome já diz o seu significado. A gestão participativa é o sistema de administração onde todas as pessoas envolvidas com uma atividade terão influência sobre as decisões que a afetarão. Entenda que não é anarquia ou festa. Não é todo mundo opinando sobre tudo. É simplesmente uma forma de aproximar todos os colaboradores envolvidos com um desafio específico e levar em consideração as diferentes opiniões.

Outra coisa importante de se entender na gestão participativa é que o papel do líder/tomador de decisão continua existindo. A única (e grande) diferença é que outras opiniões, experiências, observações e sugestões são ouvidas e levadas em consideração para a tomada de decisão final.

Assim, a gestão participativa pode ser considerada como uma forma de gestão onde o colaborador participa e é parte do processo de trabalho, desde a ideia até implementação. Normalmente, ela pode envolver 4 dimensões:

  • Comportamental

Sem dúvida nenhuma esse é um dos fatores mais difíceis de controlar, já que qualquer empresa é feita por pessoas e, quando você tem gestores autoritários ou impositivos pode ter uma dificuldade na implementação de uma gestão participativa. O comportamento estimulado deve ser o de autonomia dos indivíduos, de confiança e de cooperação. Ao invés de mandar, faz muito mais sentido informar, envolver, perguntar o que acha e delegar a atividade em conjunto com quem vai participar dela.

  • Estrutural

O excesso de hierarquia em qualquer negócio fortalece uma gestão centralizadora. Para chegar em uma gestão participativa muitas vezes pode ser necessário modificar estruturas e cargos para que exista uma troca maior e menos concentração de poder em poucas pessoas.

  • Interfaces e Stakeholders

Uma gestão participativa não acontece única e exclusivamente na relação com seus colaboradores. Para ser ainda mais aberto pode ser interessante conversar com clientes sobre próximos passos, ter parcerias com fornecedores que propiciem benefícios mútuos e por aí vai. Mais abaixo nos exemplos você vai ver um caso bem legal disso que estou falando.

  • Resultados

Uma coisa que pode ajudar nesse processo é ter uma gestão muito voltada para a análise de dados e obtenção de resultados. Nesse momento não importa seu cargo, se os dados e resultados indicam que um caminho deve ser seguido, é ele que será tomado. Isso acaba com o poder de decisão absoluta concentrado em quem tem um cargo maior.

Exemplos de Gestão Participativa

Agora que você já compreendeu o que é a gestão participativa, vale a pena conhecer alguns exemplos bem legais:

  • Buffer

Para quem não conhece, o Buffer é um software de gerenciamento de redes sociais. Obviamente em empresas pequenas e com poucos funcionários fica mais simples de implementar uma gestão aberta, mas no caso deles, não é só uma questão de tamanho ou não, é uma questão de abertura da empresa e de transparência.

Para começar, os caras são super abertos e acreditam na exposição de seus resultados. Em um post escrito em Junho foram expostos todos os resultados da empresa.

Gestão participativa - Resultados do Buffer

Os caras tem uma gestão tão aberta, que eles até adotaram uma precificação transparente, onde informam todos os custos, o que envolve o preço e o preço final pro cliente, assim não tem como se sentir enganado

Como nem tudo é perfeito, na área do blog deles onde eles falam sobre gestão participativa, eles contam algumas experiências que não foram muito bem e o que mudaram para melhorar

  • Baremetrics

Uma outra iniciativa de gestão colaborativa e aberta foi a do Baremetrics, que criou um dashboard onde as principais informações das empresas participantes ficam disponíveis. Esse processo é bem bacana e pode ajudar bastante outras empresas funcionando como um benchmarking. Veja como funciona o dashboard:

Gestão participativa - Dashboard Baremetrics

Viu que o Buffer está por lá? É uma questão de filosofia empresarial. Esse é o dashboard deles:

Gestão participativa - Dashboard Buffer no Baremetrics

 

  • Lições do Livro The Decision Maker

Esse é um livro repleto de exemplos de como implementar uma gestão participativa e de como empoderar seus colaboradores. Talvez uma das passagens mais marcantes para mim do livro foi quando ele faz uma comparação entre jogadores de basquete e funcionários de uma indústria. Porque os jogadores adoram jogar e muitas vezes os funcionários ficam desmotivados? Qual a diferença se ambos são “funcionários”?

Gestão participativa - The decision maker

Basicamente, o ponto principal é que o jogador tem o poder de decisão do que ele vai fazer e, quando tem essa possibilidade de escolha e de liberdade, assume a responsabilidade pelo que faz e se sente mais importante nesse processo. Vejo essa como uma das principais lições sobre gestão participativa. Não dá para querer comprometimento completo e motivação 100% sem envolver as pessoas no processo de tomada de decisão.

  • LUZ

Para fechar nossa lista de exemplos, nada melhor do que trazer nossas próprias experiências e o que já fizemos. Algumas das nossas práticas são:

– horário flexível e home office – sim, se não quiser não precisa ir até o escritório

– férias a vontade, quando quiser – desde que com a responsabilidade e sem afetar o seu trabalho e resultados

– transparência financeira – mostramos todos os dados de receitas, faturamento, custos, salários para todo mundo

– autonomia para todos – qualquer pessoa na empresa tem o poder de tomar a decisão que quiser

Pode não parecer muito, mas ao invés de tratar quem está com a gente como um operário, tratamos como um sócio, com todas as liberdades e responsabilidades atreladas a isso.

E sua empresa, está preparada? Desafios da Gestão Participativa

A verdade é que falar sobre gestão participativa é muito bonito, mas na prática exige uma preparação importante. Como gestor, você precisa entender se está preparado e aberto para ouvir críticas, ser questionado e não fazer tudo exatamente da maneira como você gostaria.

Digo isso, porque se você realmente quer valorizar os colaboradores da sua empresa, precisa dar autonomia para eles tomarem suas próprias decisões e, com certeza, isso pode ir conta o que você gostaria. Para tornar o processo ainda mais complicado, ele depende (como quase tudo) das pessoas envolvidas nele. Por isso, algumas premissas que acreditamos que devam ser seguidas são:

  • Gestão participativa significa ter mais responsabilidades em relação ao resultado
  • Para isso, proatividade é tudo. Não se deve depender de ordens para fazer, é necessário um senso de autonomia grande
  • Normalmente o resultado é compartilhado e, por isso, áreas diferentes devem se comunicar muito bem para se ajudarem a alcançar esses objetivos
  • Isso exige uma flexibilidade da estrutura da organização
  • E por fim, os líderes e gestores precisam ter o papel de orientadores, integradores e, acima de tudo, desenvolvedores de pessoas

Algumas formas de tornar a Gestão Participativa em realidade:

  • Caixa de sugestões e ideias
  • Planejamento Estratégico Participativo
  • Concurso de ideias
  • Financeiro aberto
  • Comissões para Tarefas Específicas
  • Horário Flexível
  • Auto gestão

Como Implementar Gestão Participativa

A verdade é que não existe um modelo de gestão participativa mais correto. Você precisa entender como funciona a sua empresa, o que os seus colaboradores pensam, quais são seus anseios e o que gostariam de mudar. É importante descobrir quais são as principais motivações e insatisfações atuais.

Eu fiz um passo a passo que você pode tomar como base, mas lembre-se de fazer modificações e adaptações para que ele dê certo na sua realidade. Outra coisa importante é que você não precisa implementar todos os passos de uma só vez, faça tudo no tempo certo para seu negócio. Veja:

  • Passo 1 – Compreenda o que os seus colaboradores pensam sobre a gestão atual

Uma boa ferramenta para isso pode ser uma pesquisa de clima organizacional. Se sua empresa for pequena, uma reunião bem aberta, talvez em um bar, com umas cervejas pode ser o momento ideal para ouvir tudo que todos pensam.

  • Passo 2 – Seja mais aberto com as informações da empresa

Compartilhar os resultados (e mostrar como o trabalho de cada colaborador está refletido ali) pode ajudar a aumentar o senso de responsabilidade e de colaboração entre todos.

  • Passo 3 – Envolva sua equipe na geração e implementação de ideias

Quanto mais donos de ideias você tiver sem ser a equipe gestora, mais envolvimento por parte dos colaboradores vai acontecer. Para isso faça rodadas de brainstorming ou reuniões periódicas com esse propósito em que as pessoas interessadas no desafio possam participar.

  • Passo 4 – Conheça quem faz parte da sua equipe

De nada adianta você ter a gestão participativa mais legal de todas. Se seus gestores não conhecerem bem com quem estão trabalhando, todo esse trabalho pode ir por água abaixo. Por isso, é importante dar feedbacks pessoais baseados em comportamentos e ter um plano de desenvolvimento individual.

  • Passo 5 – Acompanhe as mudanças

Fazer o acompanhamento da implementação da gestão participativa é tão essencial quanto implementar ela. Entender como está ocorrendo a interação entre áreas e como os colaboradores estão se sentindo vai ajudar a levar esse processo para outro patamar dentro da sua empresa.

Alguns benefícios:

  • Agilidade na tomada de decisão
  • Mais autonomia para os colaboradores
  • Organiza uma estrutura pouco hierarquizada
  • Aumento da motivação e satisfação interna
  • Comprometimento com o resultado

Que práticas de Gestão Participativa sua empresa adota?

Conta pra gente aqui embaixo nos comentários…

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