Como já falamos em outros posts existem fortes tendências atualmente que contrastam com a vida que foi vivida, em especial, nos últimos dois séculos.
Me divirto em identificar elementos do nosso dia-a-dia que evidenciam os valores que estão sendo mudados, assim como em conseguir isolar o que era visto como correto anteriormente. Já falei sobre os desenhos animados. Agora, queria utilizar um dos jogos mais famosos da minha infância para fazer essa análise.
O Jogo da Vida
O jogo já começa com tudo. Logo no primeiro quadrinho, você já ganha o seu obrigatório carro com uma venda casada de seguro.
Hoje, os carros estão sendo questionados como grandes geradores de poluição e caos urbano. Muitos negócios estão sendo criados na área de compartilhamento e as bikes estão cada vez mais em alta.
Após pegar o seu carro, com seguro, você precisa escolher uma profissão. Descaradamente, o jogo apresenta quais profissões são “melhores”. Não é surpresa para ninguém, ou você é “doutô” ou você vai ser pobre e provavelmente perder o jogo da vida.
Jornalistas, coitados, vão ter que implorar por ajuda. Não aparece na imagem, mas qualquer outro diploma universitário lhe garante o salário mais baixo possível do jogo. Pouca margem para ser feliz no trabalho, não é?
Hoje, pregamos a felicidade na sua profissão independente do que deu dinheiro no passado para nossos pais, avós ou qualquer outro familiar. Acho que o vídeo da box 1824 diz isso melhor do que qualquer coisa que eu possa escrever.
Após se formar na faculdade, você tem pouquíssimas “casas” para pensar, já é forçado compulsoriamente a se casar. Parece familiar? Antigamente, era isso mesmo ou você era visto como um doente, alguém que deve ter algum problema sério para ninguém te amar. Cuidado, senão fica para titia.
Hoje, existe uma infinidade de tipos de relacionamentos. Não apenas a homossexualidade é bem mais aceita e comum, mas também os casais heteros não veem o casamento como o único caminho. Muito apenas se “ajuntam” e acreditam que o sentimento é o que realmente importa e não vêem valor em um ritual muitas vezes vazio.
Se casou? Ótimo, agora está na hora de perpetuar a espécie. É amigos, não tem tempo para pensar não. Se formou e casou, rapidinho, no Jogo da Vida, tem que ter filho. A melhor parte disso é que no DIA DO JUÍZO você pode VENDER cada um deles e chegar mais perto da sua meta de virar um magnata. Sútil, não é?
Hoje, vários casais já pensam com calma sobre essa pressa de terem filhos e muitos aceitam até não terem.
O objetivo do jogo é claro: vire um magnata, um milionário. Tudo que você faz é para ganhar mais dinheiro dentro de uma lógica altamente financista. A bolsa de valores é a sua passagem mágica para o sucesso e é apresentada tal qual uma loteria. Para quem foi esperto e comprou ações, de tempos em tempos, você vai cair em uma casa e ganhar ou perder uma bolada.
Em outras casas, você “joga” (esse termo já diz tudo) na bolsa através da roleta (qualquer semelhança com cassino é pura coincidência) e ganha/perde outra bolada. Mas a mensagem não deixa de ser transmitida: fique rico, rápido e o seu conhecimento não vai te ajudar muito. Melhor mesmo é tentar a sorte.
Hoje, ser rico não é apenas ter milhões de reais na sua conta bancária. Mais do que isso, é ter tempo para fazer as coisas que você ama e levar uma vida saudável. Estamos assistindo o surgimento de uma geração empreendedora que questiona essa busca implacável por dinheiro e quer mesmo um mundo melhor.
Pode isso, Arnaldo? Um jogo com 20 anos de idade parece totalmente errado em seus valores? E vocês, leitores, concordam? Já pararam para olhar para trás e viram elementos fantásticos da sua infância serem opostos ao que você acredita hoje?